terça-feira, 9 de junho de 2009

Sonhos - para as minhas netas


Ás minhas netas


SONHOS


Consultando qualquer dicionário, podemos concluir que “os sonhos são conjuntos de imagens que se nos apresentam durante o sono”. A sua explicação tem sido, de uma maneira geral, pouco concreta. Há uma canção, aliás muito conhecida que diz “ o sonho comanda a vida” e alguns dos meus sonhos de criança, jovem, mulher fazem-me pensar que na verdade foram comandados pela vida.
Que pensam disto, minhas queridas netas? A quem passo a contar alguns sonhos que me impressionaram tanto que jamais os esqueci.
- Rodeada de algodão, farrapos de nuvens envolvem-me e permitem-me, apenas com ligeiros movimentos dos meus braços de criança, voar com toda a facilidade. É tão bom subir, subir, espreitar as aves nos ninhos, dialogar com os pássaros. Lá do alto, as flores parecem tão minúsculas como aquelas que brotam das plantas silvestres, à beira dos caminhos. Que bom deixar-me levar pela brisa e que fácil é deslizar no espaço. Vislumbro a minha Quinta rodeada de árvores e, em pleno jardim vejo um lindo carro vermelho, a pedais, há muito por mim tão desejado, apresso-me a descer para nele dar um passeio. Caio da cama abaixo, já não sei voar, já não tenho carro vermelho!!! (sonho de criança).
- Danço com tanta leveza embriagada pela música, as valsas sucedem-se, como rodopio! O meu par não tem rosto, não sinto seus braços à volta da minha cintura, só um cheiro a mar prova a sua existência . Dançámos com frenesim de quem quer beber todos os momentos, sem nada derramar. A sirene de um navio toca ao longe, chamando todos os seus oficiais, o meu par escapa-se tão rápidamente que nem há despedida. Corro no seu encalço, segurando a saia do meu longo vestido de baile… acordo, olho para a minha mão e vejo-me agarrada à barra do lençol (sonho de jovem).
- Acarinho tuas mãos enrugadas, afago teu rosto marcado pelos anos, estendo os braços, quero apertar teu corpo franzino. Mãe…que bom estarmos juntas novamente. Aperto-te tanto, tanto, tanto, mas acordo de braços vazios (sonho de filha).
- Estou escondida, enrodilhada, na casca de um caracol, nem tenho espaço para tremer de medo de ser esmagada por um impiedoso, grosseiro, vulgar, reles sapato. (pesadelo).
- Corredores brancos, brancas as figuras de cabeça rapada que me rodeiam e olham inexpressivamente como se anormal fosse ter cabelo. Quero fugir deste sonho agitado mas os meus pés estão colados ao chão e a multidão de calvos aperta-me, oprime-me acorda-me; estendo o braço para o meu doente e afago seus cabelos prateados que não chegaram a cair? (sonho de esposa) .
- Porque choras? Quero entrar na tua tristeza. Com carinho te abraço e teus soluços vão fugindo assustados com a minha ternura. Assim abraçadas formamos um todo que se completa e está feliz. Nossa amizade renasce, sinto-a através dos poros e está tão presente que abro os olhos a recordar nosso passado alegre, por vezes triste mas sempre amigo (sonho de irmã). Levanto-me confortada com este sonho tão real, por acaso abro uma gaveta da minha cómoda e….. olho estarrecida para um papel, onde está escrita por tua mão tua assinatura completa. Esfrego os olhos, lavo o rosto com água fria, leio o releio o teu nome. Nunca, jamais compreenderei este mistério (sonho de irmã)
Reflictam nestas historietas, minhas netas queridas e escrevam vocês também algum sonho bizarro ou qualquer experiência que tenham vivido, assim, a pouco e pouco irão adquirir o prazer da escrita, nem que seja nos oitentas, pois como disse Jean Paul Sartre “é sempre tempo de segurar o tempo pelo rabo”.

Avó Tété