terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ESTRANHA MANEIRA DE REZAR




Voltou!. Ele voltou! Não do exílio, nem da guerra mas de um mundo diferente. Contrariamente ao pai do filho pródigo, não lhe mandei fazer uma túnica nova, nem mandei matar um bezerro gordo , Vinha ensopado em saudade e extenuado de percorrer um tão curto-longo percurso; Instalei-o imediatamente no melhor quarto da casa, o meu quarto, bom, confortável, cheio de almofadas onde habitualmente me recostava desfiando minhas horas de solidão ou fazendo contas de cabeça. Nem pensei que ficava desalojada e que era premente arranjar onde dormir, mas dentro de mim tudo estava às avessas, perdera a nação do “estar”, não distinguia cores, tons, sol sombra e, neste modo de viver tão apático ,fui ocupar outro quarto da casa onde tinha uma caminha, era quanto necessitava. Ignorei a desarrumação que me rodeava: roupas, tábua de engomar, vassouras ,mopas, tudo o que era a mais lá estava arrecadado. E os dias iam passando sem me aperceber que tudo o que me rodeava era feio, sem graça. Não mais me lembrei das minhas almofadas, da minha linda colcha de crochet e outros mais pormenores que contribuíam para tornar o meu ambiente acolhedor.
Uma amiga veio visitar-me, voltou outra e outra vez, sendo sempre recebida no meu quarto trapalhão. Até que um dia explodiu e disse – não posso vê-la nesta confusão!!! Vou preparar-lhe o seu mundo, um mundo compatível com o seu “eu” Posso? Sorri-lhe e disse – só não dispenso a cama para aterrar o meu desânimo!
E dia após dia, a minha amiguinha chegava com sacos: tapete ,cortinas etc. tudo o que era necessário para que se desse uma completa transformação “tipo querido mudei a casa”—Isto, para mim é rezar --dizia-me a minha amiguinha, não frequento a igreja mas rezo , rezo á minha maneira. E foi neste espírito de oração que se fechou no meu quartinho e modificou-o por completo. Tenho a minha mesinha da saudade, com fotos dos meus queridos, a tv, a mesma, parece que diminuiu, e não afronta, o computador, orgulhoso, pousa numa mesa antiga, os meus santinhos, colocados numa escadinha amorosa, olham o céu mais de perto. Uma cama nova, coberta com colcha branca cujas franjas são o encanto da minha gatinha. Maple e almofadas de veludo, às riscas, tudo, tudo novo e alegre, nada falta no meu cantinho onde estou 24 horas por dia. Ao tirar a venda dos olhos, mal entrei exclamei –Querida, isto não é uma simples oração, isto equivale a uma missa cantada com Tedeum.
Depois de tudo isto, resta-me um desejo, mas impossível de realizar: ter uma cauda de cachorrinho para abanar sempre para mostrar o meu regosijo.

Se alguém mais rezasse assim o mundo seria MELHOR!


Maria80