segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

FESTAS DO FIM DO ANO NO FUNCHAL


CAROS AMIGOS DO ESPAÇO,
Desta Ilha maravilhosa a todos envio um luminoso Novo Ano


(Tozé, agradeço sua mensagem natalícia)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

AS CLASSES DE DANÇA DA D.EUGÉNIA




Se ainda se realizassem, teriam por certo, a classificação de "interesse público" pois por elas passsou grande parte da juventude funchalense para se iniciar na arte da dança.

Quando eu era criança, muito criança, já sonhava que era bailarina e ao som matraqueado das bandas de música nos arraiais de Sª. Luzia imaginava que estava a dar lindas piruetas lá no cimo do coreto. Era um belo devaneio e a minha alma pequenina acompanhava-me naquele louco rodopio.

Mais tarde, os filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers mais e mais me entusiasmaram, pela sua graciosidade e beleza; os vestidos luxuosos e muito rodados acentuavam o ritmo dos seus movimentos.

Calmamente fui esperando o tempo em que, já rapariga, iria saborear também o prazer de dançar.

Mas, jamais poderia imaginar que esses projectos iriam ser tão difíceis de concretizar, pois o meu pai cortou-me fria e inexorávelmente os meus desejos de adolescente. - Não, não, a sua sempre menina jamais seria enlaçada por braços masculinos, com o bicho-homem distância -. Até os banhos de mar, no Lido me foram proíbidos, pois era um local frequentado. por militares e, tanto mais, dizia-se, que se passavam por lá muitas indecências ???

Revoltada com estas atitudes, passei a reivindicar os meus direitos femininos.

A minha mãe, sempre conciliadora, resolveu contornar este obstáculo, e um certo dia, chegando a casa, disse-me:- sabes Teresa, vais frequentar as classes de dança da D. Eugénia...MILAGRE...a tanto não tinha sonhado! !! as classes de dança da D. Eugénia tão afamadas pelo seu brilhantis-mo...mas minha súbita alegria foi fugaz e caiu-me aos pés, rolando, rolando no meu pobre chão ,

quando minha mãe acrescentou calmamente:-vais para uma classe particular com a tua ex-colega da escola, irmãs e primos, tudo em família. E que família! Conhecia tão bem os primos da

Suzete. Esses seriam os meus pares? Gordos, anafados, reluzentes à custa de tanto pão comerem

sei lá, pão de forma, português, de cruz.

Aceitei tristemente este programa, dançar eu aprenderia, por certo, mas a vingança era uma certeza.

Nesse tempo, as técnicas de som eram quase desconhecidas e nas classes de dança da D. Eugénia

a música provinha de um piano cansado de devorar, esfrangalhar as belas notas das valsas de

Strauss e dos românticos tangos de Gardel.

As valsas eram penosas para os meus gentis cavalheiros, porque ficavam banhados de suor, já

os fox-trot lhes davam maior descanso. De tango, só o nome, pois suas patorras impediam -nos de executar tão belos passos quase de cumplicidade entre os pares.

Mas, mesmo nestas condições, aprendi: mas para quê, perguntava-me desolada, estavam-me vedados assaltos de Carnaval, festinhas de fim do ano, nada.

Mas agora, as minhas lembranças apagaram-se e não sei como é que eu tive autorização para ir às matinés dançantes do velho Casino da Madeira.

Como era bom dançar com pares galantes, com farda, sem farda, que me levavam a deslizar,, rodopiar ao som de belas músicas modernas tocadas por uma verdadeira orquestra.

Mas toda a felicidade tem o seu preço! e eu pagava esse preço quando me vinham tirar para dançar dois assíduos e indesjáveis pares: Um, o comandante dos Bombeiros Municipais, homem

respeitozissimo, fiel chefe de família mas que adorava foliar com raparigas novas. Quem não se recorda de o ver desfilar garboso, nas paradas militares com seu capacete de metal tão brilhante que até irritava o Sol! O outro indesejável era o Eduardinho, paz à sua alma, tão pequenino, sempre elegantezinho, mas faltou-lhe Pó Royal para crescer.Mas, apesar destes pequenos

incidentes, vivi tardes tão gostosas, nas quais tive oportunidade de exibir os meus conhecimentos adquiridos nas classes de dança da D. Eugénia.


Maria80






















segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A ALDORA



A ALDORA
Encontrei-a hoje no Funchal, a Aldora, a minha Aldora. Abraçámo-nos efusivamente, seus olhos negros, sempre expressivos derramaram ternura, suas rugas que marcam uma longa vida, distenderam-se num sorriso jovem e gaiato.
Mas quem é esta boa amiga que me trás tantas e doces recordações da minha infância?
É natural do Monte, onde sempre viveu e vinha para a nossa casa, como empregada doméstica nos períodos de transição de criadas; estava sempre disponível para remediar uma situação de mudança de pessoal.
Eu, criança, à volta dos dez anos, ela com os seu vinte, dávamo-nos muito bem. Ao fim da tarde, muitas vezes, acabada a lida caseira, íamos para o quintal, se era tempo das canas de açúcar chupávamos gulosamente, pedaços e pedaços de cana, à velocidade de um engenho, escolhíamos especialmente a qualidade P O J que eram as mais doces e tenras. Fecho os olhos e sinto novamente o paladar e a frescura do suco das canas sacarinas.
Em dias de vento corríamos de braços abertos pelos longos passeios do quintal, éramos vento, respirávamos vento, soprávamos como vento abanando as árvores que pacientemente se deixavam desfolhar.
Mas, o que mais recordo da minha Aldora foi um grande acontecimento da sua vida: a sua nomeação para Mordoma da Festa do Monte. Tal nomeação dava estatuto mas também obrigações. Era de bom tom que as mordomas “tirassem” três vestidos novos: um para a véspera, outro para o dia da Festa e o terceiro para a segunda-feira seguinte, dia de fazer contas.
Claro que acompanhei de perto todos estes projectos. Era preciso fazer roupa nova, de dentro para fora. Aldora começou a preparar a roupa interior; para a combinação comprou um tecido cor de rosa choque, que nessa época era inaceitável, no qual foi bordando, nas horas livres,uma barra de “viuvinhas”.
Eu olhava extasiada com a rapidez com que as florinhas apareciam bordadas. Ela tinha uma bola de linhas de bordado Madeira de todas as cores possíveis e, estou a vê-la, puxava uma linha, à toa sem preocupação de cor ou tom, e a linha rapidamente já era viuvinha”.
Mas dos três vestidos o mais importante era aquele que seria usado no dia da Festa e da procissão. Esse foi confeccionado em seda “georgete” castanha e como complemento da toilete, chapéu de palha da mesma cor enfeitado com duas rosas cor-de-rosa.
Escolhidas as roupas iniciou-se a segunda fase: o momento exacto em que Aldora, em carro aberto, iria passar por debaixo da janela da casa onde viviam as suas futuras cunhadas, irmãs do José seu namorado, que viviam na nossa rua logo abaixo da quinta Sarmento, esse era o factor de maior relevo do que a Festa propriamente dita e era seu maior desejo causar às espectadoras sentimentos de inveja, assombro e admiração.
Alinhar à esquerda
Vivia também em Sª. Luzia um chauffeur de praça, o Galo Tonto, que era proprietário de um carro grande, próprio para passeios turísticos e que com a capota descida permitia aos passageiros verem bem e serem vistos, foi esse o carro escolhido.
Mas S. Pedro não gostou deste desejo que poderia levar almas cristãs ao pecado e na manhã do dia 14 de Agosto, em pleno verão mandou nevoeiro e chuviscos. Nestas condições atmosféricas nunca soube se o desejo, tão, tão desejado pela Aldora se concretizou e em que condições chegou à Igreja do Monte, no carro aberto do Galo Tonto!!!
Maria 80

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma visita de pêsames


Acordei muito, muito cedo, os melros pretos ainda não tinham principiado as suas saudações e diálogos. O silêncio era tão profundo que os meus ouvidos nada tinham para escutar. Então vieram as recordações de outras manhãs distantes em que acordava com o ruído das carroças que transportavam legumes, frutas e outros produtos mais, para abastecimento da Praça do Chile . As mulheres da fava rica eram tão madrugadoras como os melros pretos do meu jardim. “Ó fava riiiiiiiiica”. E a pouco e pouco vinham surgindo os pregões da laranja “- olha a boa laranja ,laranja boa…” e o homem dos queijos “-ó queijo saloio…” o dos morangos “- são de Sintra…” e as peixeiras “-ó freguesa é para acabar, rabo , cabeça e posta…”!



Que saudades de toda aquela envolvência ao meu despertar na Alameda D. Afonso Henriques!!!
A nossa mudança de residência para a capital, foi uma grande e boa aventura. Cidades diferentes, diferentes os costumes. Nessa época 1949/50 para ir às compras à baixa lisboeta era de bom tom cuidar da toillete, as luvas e os chapéus contribuíam para dar uma nota chic, se assim não fosse, como entrar descontraidamente na Pastelaria Império nas Escadinhas de Sª Justa? E as estreias no cinema S. Jorge sempre com magnifico recital de órgão nos intervalos da exibição dos filmes?
O primeiro inverno que lá passámos foi difícil, havia a preocupação do “abafar”, quer para sair quer para estar em casa. Lembro-me perfeitamente das nossas toilletes caseiras, minha e da minha mãe, dessa tarde que estou a recordar; eu vestia saia de xadrez vermelho, preto e branco, camisola preta, colar vermelho. A minha mãe: saia de xadrez em vários tons de verde, pull-over verde bandeira, muito alheadas do falecimento de uma tia, que tinha ocorrido no Funchal e com quem tínhamos cortado relações. Assim quentinhas fazíamos crochet, pois o nosso dia-a-dia sofrera grandes alterações, longe estavam os cuidados com o jardim, tais como zelar pela nossa colecção de cravos preparar as sementeiras para encher de flores os canteiros na primavera, etc. na capital, como as nossas amigas lisboetas fazíamos crochet.
Casada de fresco transformei-me numa dona de casa eficiente, para os lanches havia sempre bolos e bolinhos e como a temperatura do inverno o exigia, substituímos o habitual chá por deliciosos licores.
Nessa tarde que agora estou a recordar, ocupadas com os nossos trabalhos manuais, fomos interrompida pela empregada que veio anunciar a chegada de duas senhoras, que nos aguardavam na sala. Óptimo! Fomos recebê-las com alegria, as amigas são sempre bem-vindas!
Ao vermos as visitantes, os nossos corações caíram ao chão, felizmente sem ruído. Era uma visita de pêsames !!!!! Duas amigas da minha mãe, protocolarmente vestidas para a ocasião, luto rigoroso nos trajes, nos adereços e nas expressões. A mais velha, vestia com elegância e usava um lindo chapéu preto, coberto com um véu salpicado de bolinhas pretas de veludo que ajudavam a esconder seus olhos terrivelmente extrábicos. A irmã vestia tailleur de alta costura, posso jurar, que era complementado por chapéu com voltas e laçadas de fita de cetim negro, como negros os melros que habitualmente saltitavam nas árvores do meu jardim.
“Embrulhamos” instintivamente a nossa jovialidade, mas nossas roupas parenteavam que nem um pouco estávamos a sentir mágoa pela falecida.
Entre amigas, um passado de bom convívio e companheirismo superou a nossa desintegração e falta de solidariedade para um acontecimento que deveria ter sido sentido com mágoa. “Senti-me nua na praça”.
À saída, depois de uma despedida cordial, logo que o elevador desapareceu, olhei para a minha mãe, descoroçoada com tanta inconveniência e disse – óh mãe, e agora!!!
A mãe, tomou o meu braço e calmamente respondeu-me – Agora vamos beber o nosso licorzinho!
Maria80

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sonhos - para as minhas netas


Ás minhas netas


SONHOS


Consultando qualquer dicionário, podemos concluir que “os sonhos são conjuntos de imagens que se nos apresentam durante o sono”. A sua explicação tem sido, de uma maneira geral, pouco concreta. Há uma canção, aliás muito conhecida que diz “ o sonho comanda a vida” e alguns dos meus sonhos de criança, jovem, mulher fazem-me pensar que na verdade foram comandados pela vida.
Que pensam disto, minhas queridas netas? A quem passo a contar alguns sonhos que me impressionaram tanto que jamais os esqueci.
- Rodeada de algodão, farrapos de nuvens envolvem-me e permitem-me, apenas com ligeiros movimentos dos meus braços de criança, voar com toda a facilidade. É tão bom subir, subir, espreitar as aves nos ninhos, dialogar com os pássaros. Lá do alto, as flores parecem tão minúsculas como aquelas que brotam das plantas silvestres, à beira dos caminhos. Que bom deixar-me levar pela brisa e que fácil é deslizar no espaço. Vislumbro a minha Quinta rodeada de árvores e, em pleno jardim vejo um lindo carro vermelho, a pedais, há muito por mim tão desejado, apresso-me a descer para nele dar um passeio. Caio da cama abaixo, já não sei voar, já não tenho carro vermelho!!! (sonho de criança).
- Danço com tanta leveza embriagada pela música, as valsas sucedem-se, como rodopio! O meu par não tem rosto, não sinto seus braços à volta da minha cintura, só um cheiro a mar prova a sua existência . Dançámos com frenesim de quem quer beber todos os momentos, sem nada derramar. A sirene de um navio toca ao longe, chamando todos os seus oficiais, o meu par escapa-se tão rápidamente que nem há despedida. Corro no seu encalço, segurando a saia do meu longo vestido de baile… acordo, olho para a minha mão e vejo-me agarrada à barra do lençol (sonho de jovem).
- Acarinho tuas mãos enrugadas, afago teu rosto marcado pelos anos, estendo os braços, quero apertar teu corpo franzino. Mãe…que bom estarmos juntas novamente. Aperto-te tanto, tanto, tanto, mas acordo de braços vazios (sonho de filha).
- Estou escondida, enrodilhada, na casca de um caracol, nem tenho espaço para tremer de medo de ser esmagada por um impiedoso, grosseiro, vulgar, reles sapato. (pesadelo).
- Corredores brancos, brancas as figuras de cabeça rapada que me rodeiam e olham inexpressivamente como se anormal fosse ter cabelo. Quero fugir deste sonho agitado mas os meus pés estão colados ao chão e a multidão de calvos aperta-me, oprime-me acorda-me; estendo o braço para o meu doente e afago seus cabelos prateados que não chegaram a cair? (sonho de esposa) .
- Porque choras? Quero entrar na tua tristeza. Com carinho te abraço e teus soluços vão fugindo assustados com a minha ternura. Assim abraçadas formamos um todo que se completa e está feliz. Nossa amizade renasce, sinto-a através dos poros e está tão presente que abro os olhos a recordar nosso passado alegre, por vezes triste mas sempre amigo (sonho de irmã). Levanto-me confortada com este sonho tão real, por acaso abro uma gaveta da minha cómoda e….. olho estarrecida para um papel, onde está escrita por tua mão tua assinatura completa. Esfrego os olhos, lavo o rosto com água fria, leio o releio o teu nome. Nunca, jamais compreenderei este mistério (sonho de irmã)
Reflictam nestas historietas, minhas netas queridas e escrevam vocês também algum sonho bizarro ou qualquer experiência que tenham vivido, assim, a pouco e pouco irão adquirir o prazer da escrita, nem que seja nos oitentas, pois como disse Jean Paul Sartre “é sempre tempo de segurar o tempo pelo rabo”.

Avó Tété

quarta-feira, 29 de abril de 2009



A Caligrafia


O 25 de Abril modificou a vida de muitas pessoas. Eu, por exemplo, trabalhava na hotelaria, mas vi-me obrigada a mudar de profissão. Fui procurar um velho diploma, que anos e anos rolara nas minhas gavetas e graças às minhas habilitações do Curso Comercial da antiga Escola Comercial e Industria António Augusto de Aguiar do Funchal, candidatei-me para o 12º grupo C Grafias que leccionava as disciplinas de Caligrafia, Dactilografia, Estenografia e Práticas de Secretariado. Como era principiante na profissão foi-me atribuído um horário de Caligrafia. Foi uma boa experiência.


O Alfabeto


Ensinar Caligrafia é geralmente monótono, mas foi um meio de angariar $$$ escudos, eu gostei! São lindos os traços, ora subindo ora descendo, como a vida nas suas vertentes.
O elegante A lembra amor, altruísmo. O F fascina-me, JJJ juntos, enfileirados, jovens que nos olham com vontade de aprender, meio de lhes dar outra perspectiva do Mundo e da Vida, ajudá-los a abrir novos caminhos, saber ser, além de conhecer, saber estar, como vestir, conhecer indispensáveis regras de etiqueta, servir com graça um café, enfim, preparar-se dum modo especial para a profissão de Secretária no vasto sentido da palavra.
Os Bês, traços finos para o alto, grossos na descida, lembram bêbado quando cai esparramado à beira dum muro, pode cair, pode morrer, se morre a urbe fica mais bela.
O I=& comercial é atento, cumprimentador, ligado ao O, tão castiço e ao G rico em curvas que lhe dão beleza, fazem-nos ler:


Obrigado,
Graça Gouveia


As letras ele há-as belas, as do alfabeto que nos permitem traduzir estados de alma, beleza, mas os eLes também podem ser falsos, podem traduzir lascívia, um olhar sujando uma bela manhã que devia ser limpa. As letras de câmbio são traiçoeiras, derrotam, matam, juntas podem perfazer metros e metros que conduzem à ruína. Eles leva-as o vento, para que um raio as parta.
Os algarismos são díspares, o 24 a recordar dia de casamento, o 25 que todos festejam, mas para alguns sinónimo de perda, prejuízo.
Os eNes, nuvens, afoguem as horas tristes e os eMes de maternidade, de irmã, venham iluminar a minha mente.
As minhas preferidas são os eFes tão deslizantes, arrematados por um laço lembram felicidade, mas o D é a minha predilecta, acrescento-lhe um discreto E, remato com um Us e aparece-me

DEUS
“Que faz da eternidade um só dia feliz” (in Liturgia das Horas)

MARIA80

domingo, 12 de abril de 2009


PÁSCOA 2009

ALELUIA ALELUIA
O SENHOR RESSUSCITOU
Votos de Feliz Páscoa a todos os meus amigos, com um grande abraço da
MARIA80

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O meu crucifixo Sexta Feira Santa



O MEU CRUCIFIXO
É a luz que me ilumina
O sol que me aquece
A doçura que me embriaga
O alimento que me dá força
A fortaleza onde repouso
O oceano onde mergulho
A beleza que me encanta.
EDITORIAL FRANCISCANA

terça-feira, 7 de abril de 2009

Senhor Cardoso


O SR. CARDOSO
Como poderei esquecer o Sr. Cardoso! Homem que infernizou a minha infância com seus tratamentos, prescrições e doutos conselhos quanto à saúde.
Actualmente seria dietista, homeopata, osteopata, reflexologista e muito mais, mas no seu tempo era apenas o Sr. Cardoso – o massagista.
Tinha o seu ginásio na Rua do Bispo; estou a vê-lo louro, olhos azuis, braços musculosos cobertos de fartos pelos dourados que lembravam uma ceara madura.
Os seus pacientes tinham os mais variados padecimentos como variados eram os seus conhecimentos: um rapazinho muito débil, que quase nem voz tinha, após o devido tratamento cresceu, fortaleceu e no seu devido tempo…multiplicou-se; uma esposa que não gerava filhos…engravidou e deu à luz uma Joaninha, graças aos conhecimentos do Sr. Cardoso. Mais tarde, essa bebé, já mulherzinha, encantou os amantes de música erudita com sua voz melodiosa.
Minha irmã era uma magrizela, macilenta, as pernas rivalizavam com as da Olívia Palito; eu, baixinha entroncada, dizia-se em casa que saía à tia Filomena, que era muito “grossa”. Com exercícios físicos alimentação natural (que desgraça) crescemos normalmente e livrámo-nos duma “fraqueza” que era o receio e obsessão da nossa mãe. Mas principiou o tormento!
-Sopas cozinhadas à última hora, de agrião, beterraba ou couve, nabo e cenoura, tudo isto quase cru, para não se perderem as vitaminas.
- Banhos de mar a partir das 8 horas da manhã, cronometrados, exposição ao sol proibida, pois os excessos levavam muitos jovens ao sanatório. A minha mãe “bebia” estas sugestões e não cedia um milímetro. Assim as idas ao Lido faziam-se na frescura da manhã; por volta do meio -dia, quando regressávamos tristemente a casa, encontrávamos as amigas chegando radiantes com a perspectiva de um dia cheio de sol. Que raiva!!!
Depois do almoço era também obrigatório fazer repouso; vejo-me deitada no sofá, bem pertinho do relógio da avó, que ia marcando arrastadamente os minutos da meia hora que nos era exigido descansar.
- Constipações: meia chávena de sumo de cebola, em jejum.
-Gripes: água de pêro e cebola com sumo de limão, que deveria ser bebida de copo em copo ao longo do dia. À noite, para aliviar as dores do corpo, massagens com rodelas de limão quentes. Era de arrasar!
Mas agora, que sou octogenária, penso no Sr. Cardoso. Quem sabe se ele não corrigiria um dedo do meu pé, que teima em curvar-se servilmente ao meu sapato de marca o que me tira o prazer de passear na minha bela cidade?!

MARIA80

Parabens !!!



Parabéns Maria80!!!


Tomei a liberdade de entrar no blogue da minha avó para dizer que ela hoje faz 82 anos, ou seja já anda na net à 2!!!!


Muitas felicidades e muitos mais anos de vida!!!!!
Beijinhos da Carolina

segunda-feira, 16 de março de 2009

O VAPOR - RIBEIRA DE ST. LUZIA

O “VAPOR”

Nasci mulher e fui projectada para a luz pelas entranhas da terra, qual bebé escorregadio a sair do ventre materno; meu caudal é enriquecido por algumas pequenas levadas que se juntam a mim e, assim acompanhada, corro ao eterno encontro com o mar. Chamo-me Luzia porque banho a encosta da igreja do mesmo nome.O tempo não me marca distingo-o pela chuva, pela cor, pelo sol. Ao meu redor, aqui os verdes tenros das ervas singelas entram em rivalidade com o verde prateado das folhas dos eucaliptos ali, e com os verdes sisudos de uma nespereira que espontaneamente nasceu além, aproveitando um pouco de terra entre as pedras do meu leito. Não posso deter-me a apreciar a sua beleza pois o mar espera-me sempre com ansiedade.A minha água canta a saltar de pedra em pedra respingando gotas que são logo devoradas pelo sol. Aqui, uma pedra grande obriga-me a desviar, ali um pequenino promontório obriga-me a fazer cintura na minha descida, além grandes pedras que outrora as lavadeiras cobriam de roupa para secar. Aqui, uma aboboreira atrevida espreguiça-se com volúpia oferecendo descaradamente as suas flores amarelas hoje, aboborinhas amanhã, ali os gatinhos de uma ninhada brincam felizes sem desconfiarem do caudal do inverno que os irá tragar, além tufos de chapéus de feiticeira balouçam-se descontraidamente, embalados pelo vento.O meu deslizar constante aproxima-me da Ponte do Torreão e aí meu líquido coração liquefaz-se ainda mais cheio de saudades do “Vapor” e seus habitantes. Margem da ribeira? O seu corredor estreito, a cor vermelha com que foi pintado, dava-lhe o aspecto de casco de navio e, fosse por essa razão ou pelo seu formato esguio, certo é que todos lhe chamavam “Vapor”.Como recheio, um catre de ferro coberto com um colchão de palha aos mazarulhos (*) tão amarelecido e manchado pela humidade que nem o Trabalho desejaria ali descansar Um lava-Quem terá construído aquela casa de madeira, habitação de lavadeiras, escorada de margem amãos também de ferro, coxo com um velho espelho dependurado por um arame. Espaço, muito espaço para as banheiras que ao fim da tarde, seriam aí guardadas com a roupa lavada que o sol alpardinho (*) não tivera força para secar.Por baixo do”Vapor”havia no verão uma pequena represa feita na ribeira com os calhaus do leito cimentados a barro onde se empossava a água. Era a alegria da rapaziada, naquela água turva de sabão, escoada das lavagens ,nadavam, faziam pesca de eirós e até regatas de celhas, sentados ao fundo delas com os pés cruzados, servindo-se das mãos bem espalmadas para remar. Se acaso abalroavam, não havia perigo pois nadavam como peixes.Oh, “Vapor”, “Vapor”, porque não desceste até o mar para balouçares sobre as ondas?Porque te deixaste destruir pelas enxurradas?Molhada em lágrimas de saudade dos seus pequeninos companheiros, Luzia só deseja se abraçada pelo amigo que eternamente fiel a aguarda e, já nem olha para os alegres girassóis aqui, para os fetos além; corre, corre apressadamente, as cores quentes das buganvílias excitam-na e agora só deseja entregar-se loucamente ao mar.

Maria80

(*) - Vocabulário Popular Madeirense, Padre Fernando Augusto da Silva, edição da Junta Geral do Funchal, 1950.Fonte: Sarmento, Alberto Artur, in suplemento ao nº 4900 de O Jornal das Artes e Ciências e da História da Madeira, Funchal, 7 de Novembro de 1948.

segunda-feira, 2 de março de 2009

PROVÉRBIOS - SABEDORIA POPULAR



Hita é uma amiga espontânea, alegre, boa companheira; viaja muito, interessa-se pelas realidades do mundo por onde vai passando, sempre atenta à natureza humana que a rodeia. Mas dentro de si tem um mundo muito estranho que lhe permite falar com o “além desvendar mistérios. É para Hita muito natural perguntar a uma amiga com quem está a dialogar – olha o teu pai (já falecido) está aqui a teu lado, queres vê-lo? Não, responde-lhe a amiga horrorizada.
Viúva, na sua sala elegantemente bizarra, pousa sobre a prateleira da chaminé, um lindo cofre, contendo as cinzas do seu marido, que fora cremado.
Fim do ano 2002, após o feérico espectáculo na baía do Funchal a família brinda ao bebé 2003 que acabara de nascer. Toca o telemóvel é Hita a desejar felicidades à sua amiga madeirense e diz-lhe eufórica – estou a brindar à tua saúde, champanhe com com cinzas do meu marido!!!
“O 1º copo para a saúde
O 2º para a alegria
O 3º para a felicidade
O 4º para a loucura” Provérbio da Bulgária
A fechar estas estórias deixo um repto, baseado também na sabedoria popular – escrevam, minhas amigas, escrevam porque:
“FERRO QUE NÃO SE USA GASTA-O A FERRUGEM”
“QUEM NÃO ARRISCA NÃO PETISCA”

domingo, 1 de março de 2009

PROVÉRBIOS (continuação)



HISTÓRIAS VERÍDICAS
(continuação)
Manuela e Ramon, mãe velha e filho esquizofrénico, viviam pobremente numa casa a desfazer-se. No inverno os tectos descascavam-se mais e mais, dando passagem à chuva que se infiltrava por todo o lado. No verão era uma apoteose de pulgas e baratas que alegremente circulavam entre as poeiras e o lixo. No mísero quarto de dormir uma dúzia de relógios martelavam o tempo para o apressar.
Última desgraça para coroar uma vida cruel: entupiu-se a sanita, que durante anos e anos, fazia esforços para cumprir a sua missão
Como resolver este grande e inadiável problema? Fácil! Mãe e filho foram comprando grandes bidões de plástico, que dia a dia iam enchendo com as fezes, bidões esses que eram guardados metódicamente na cave. Quando o cheiro insuportável, subiu, subiu, até às casas vizinhas , foi pedida uma vistoria camarária, que encontrou, enfileirados, nada mais nada menos que 137 recipientes cheios de perfumado conteúdo.
“QUEM NÃO POUPA NEM HERDA SÓ TEM UMA POUCA DE M…”