quarta-feira, 11 de maio de 2011

Publicidade de ontem e de hoje


Ontem como hoje, aposta-se na publicidade a fim de aumentar as vendas, os contactos, lançar novidades etc. sempre dirigida ao consumidor, aposta-se no poder da imagem que é superior ao das palavras.
Folheando alguns exemplares do antigo jornal Heraldo da Madeira do ano de 1905, foi-me possível entrar na dia a dia daquela época, quais as suas principais necessidades, ofertas comerciais e outras mais notícias.
Com grande destaque encontrei anúncios de inúmeros consultórios de dentistas, pois a preocupação de ter bons dentes não é moderna.
TOLENTINOS - esses conheci eu, pois o mais novo da família de algozes muito crucificou a minha infância, porque os meus pais eram clientes desse consultório. Que desespero! Enquanto o doutor me tiranizava, a minha mãe, ignorando por completo o meu desespero, dialogava serenamente com o médico; ele tinha um andar de pinguim e, mesmo de olhos fechados, sentia os seus passos balanceados a equilibrar um corpo gorducho, tinha um modo muito peculiar de dizer a palavra cussspir, que nunca esquecerei.
Dentro da especialidade, havia pouca concorrência, só encontrei dois outros anúncios:
ALBERTO MACQUERYS – Colocação de dentes, com ou sem chapa, aparência igual ao natural. Garante de uma boa mastigação.
Também o Dr. Eduardo Ascenção anunciava os seus serviços; ao contrário do que hoje acontece, pois lê-se um anúncio de estomatologista porta sim, porta não.
Mas, tratados os dentes, era possível e mesmo muito agradável saborear boa doçaria, a MERCEARIA LEALDADE OFERECIA um grande e variado stock de bolachas, rebuçados, doces dos mais saborosos.
A MERCEARIA FAVORÁVEL, pelos seus anúncios, disponha de muitos doces de “fructa”, para atrair a sua clientela. Com a aproximação do Natal anunciava-se venda de “assucar” branco a 250 reis o Kilo, Cacau da melhor qualidade a 800 reis o kilo. O melhor café de “marka S. Tomé e Angola, chá inglês anunciado por três figurinhas galantes; manteiga Burnay a 720 reis à venda na Mercearia União (antiga vacaria).
Também a moda ocupava o seu lugar.
LONDON HOUSE à Rua da Sé oferecia grande variedade de punhos, camisas, colarinhos.
A CHAPELARIA CAMÕES publicitava sua colecção de chapéus de palha do Panamá, feltros em várias cores a preços módicos.
A LOJA RESTAURAÇÃO – vendia leques, mitaines, luvas em seda e algodão etc.
Quanto a bengalas A LIBERDADD ao Largo do Chafariz 32 acabara de receber uma bonita colecção a preços convidativos.


COSMÈTICA – POMADA SECRETO para fazer crescer cabelos, barba e bigodes.
SAÚDE – para Anemias, Extenuação, Empobrecimento de sangue e Cor pálida recorreria-se às DRAGEIAS RABUTEAUX. Afecções Syphiticas, Vícios de Sangue, com XAROPE GILBERT encontraria a saúde perdida.
O HOSPITAL – pede amas.
Aprender “allemão” observando a “ortographia” moderna; l3$000 ições de Inglês por um professor com comprovada prática de ensino “méthodo” rápido e novo na madeira. Lições em classe por 3$000 reis por mez.
“Fugiu um papagaio cinzento”, dão-se alvíceras a quem o entregar na redacção deste diário.
Casas para venda, ao c ontrário do que hoje se lê em catadupa, não encontrei nenhum anúncio; só para alugar: “Aluga-se casa à Rua… com cinco quartos, água de beber e para lavar…”
Mas muito interessante é o estilo de escrita dessa época, por exemplo o funeral do snr. Fulano tal:
“… à beira do sepulcro o snr. Admirador do extinto, proferiu sentidas palavras de despedida, das quais apenas podemos transcrever alguns períodos fugitivos:
Ó que sombrio problema este da morte
Será verdade, que extinta a vida inerte e exangue o nosso ser se decompõe dos seus elementos primevos trazendo ao seio da natureza mãe, que lhe deu existência, o alento pelo agregado molecular, tal qual o planeta no âmago de que se extinguiu o calor….”
Depois de tanto pesar passemos aos programas culturais. A nossa juventude ficaria desolada com a escassês de programas de diversão: um ou outro concerto na Praça da Rainha, baile na Quinta Pavão e o Theatro D, Maria Pia a apresentar uma ou outra peça de teatro “Didia a mulher peixe. Que monotonia em comparação com os programas das nossas discotecas, arraiais, cortejos que enchem a nossa cidade de luz e música.
Mas , consultando a nossa imprensa diária, a venda de automóveis é muito publicitada, neste contexto chega-se ao exagero de publicar as fotos de alguns vendedoresl para que, olhando para os seus rostos, a conta bancária dos hipotéticos compradores, aumente num crescendo milagroso.
Muitos astrólogos, qual deles o mais negro, a prometerem sucesso, amor e dinheiro. Coitado o desgraçado que se convence de tanta mentira.
Mas , a grande novidade é a compra de ouro e prata: ELOYS, OUROLUX e muitos outros comerciantes que estão a aproveitar-se desta mudança de mentalidades. Lá vai o tempo em que a preocupação das raparigas era comprar um fio de ouro, que passava de avós para netas, mas agora, trocam valores reais por “uma viagem à Venezuela para ver o seu netinho.
Bem disse o poeta “POBRES DOS POBRES DOS POBREZINHOS.
Maria 80

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