Há já alguns anos que faço parte do Departamento dos Professores Reformados organizado pelo Sindicato de Professores da Madeira. São variadas as actividades, entre elas, aulas de leitura e escrita cujo programa consiste no estudo das obras dos nossos escritores clássicos e contemporâneos e também incutir nas alunas o gosto pela escrita. Passo a transcrever uma história que narra a chegada à minha casa, do Óscar, meu amigo cão
EU, ÓSCAR…
Arrancado do seio de minha mãe, deixaram-me atrás de um portão de ferro, cuja frieza me trespassou. Inconsolável, senti-me perdido num mundo desconhecido. Chorei, chorei, com saudades da minha progenitora; apareceu uma cadela negra que olhou para mim indiferente aos meus lamentos, e, como era surda, não soube consolar-me.
CORAÇÂO IMPIEDOSO
Meus ganidos desesperados chamaram a atenção das moradoras da casa onde tinha sido abandonado, vieram ao mau encontro e logo me senti beijado, olhado com ternura, várias mãos me afagaram, até que, consolado deixei de soluçar. Como prometeram acolher-me, aos poucos senti-me confiante.
CORAÇÕES GENEROSOS
Assisti pateticamente a uma troca de impressões sobre o nome que me deveria ser atribuído. Nabuco? Celso? Cognac? Óscar foi o escolhido.
CORAÇÕES ORGANIZADOS
Tenho três protectoras que adivinham meus desejos e me olham com amizade, mas sinto maior ternura e um certo paralelismo por aquela, que tal como eu, tem os cabelos pretos manchados de branco! Tenho-lhe tanto amor! Como me cuida! Até me serve as refeições na minha casinha, em dias de chuva.
CORAÇÃO GENTIL
O meu mundo visto cá do rés-do-chão é tão simples e tão tranquilo!
Tenho um quintal para vigiar, flores para estragar, gatos para amedrontar, de um modo especial o Melão, que lá por ser de raça pura, olha para mim, que sou rafeiro, com superioridade
CORAÇÃO ARROGANTE
Mas agora que estou instalado, desejo conhecer a vida dos colegas que me passam à porta. Arranjei um amigo com quem converso de quando em vez. Pergunto-lhe – aí pelas ruas, o que comes?
- Mal, responde-me ele, o que me aparece pelo caminho!
-Não tens um tacho onde comer? Questiono confrangido.
Há quem tenha tachos sempre cheios, mas em grande escala vagueiam por aí, muito desprotegidos, tristes com a sua pouca sorte!
CORAÇÕES INFELIZES
Continuo o diálogo – diz-me, conta-me, situa-me nesta terra, eu vivo num jardim, e vocês? Ah, a Madeira é um jardim imensurável… Jardim e mais jardim.
CORAÇÕES COLORIDOS
- Gostaria de passear contigo, mas a minha dona não me autoriza. Por onde gastas os teus dias?
- Passeio pela cidade vou ao cais, à marina, ao porto, gosto de ver descarregar os contentores. Ena! Tanta comida, faz-me crescer água no focinho, é pena não chegar para todos!
CORAÇÕES ESFAIMADOS
- Sabes, há dias saí de carro, fui ao veterinário com a minha dona, ela chamou um táxi grande, bestial, quando passávamos muita gente nos olhava.
- Ah, eu sei, conheço essa traquitana, é o carro do Sr. Leonel, um carro para transportar doentes em cadeiras de rodas, isso é uma anedota. Sabes lá o que são carros de luxo!
que andam por aí! Há alguns até com bandeirinhas a tremular ao vento. Têm todos os requisitos para dar conforto e bem-estar a quem neles viaja.
-Têm uma planta para se levantar a perna?
-És um idiota e não tenho mais paciência para aturar tanta ignorância, vou-me embora.
CORAÇÃO IMPACIENTE
Óscar pouco se preocupou com a partida do amigo, tinha tanta coisa a fazer, ladrar aos melros pretos que saltitam nas árvores, ladrar para a velha vizinha, só para a irritar e ouvi-la dizer em voz fanhosa:
-Cala-te, Óscar, que já me dói a cabeça!!!
“O cão faz ão ão é meu amigo como os que são”
EU, ÓSCAR…
Arrancado do seio de minha mãe, deixaram-me atrás de um portão de ferro, cuja frieza me trespassou. Inconsolável, senti-me perdido num mundo desconhecido. Chorei, chorei, com saudades da minha progenitora; apareceu uma cadela negra que olhou para mim indiferente aos meus lamentos, e, como era surda, não soube consolar-me.
CORAÇÂO IMPIEDOSO
Meus ganidos desesperados chamaram a atenção das moradoras da casa onde tinha sido abandonado, vieram ao mau encontro e logo me senti beijado, olhado com ternura, várias mãos me afagaram, até que, consolado deixei de soluçar. Como prometeram acolher-me, aos poucos senti-me confiante.
CORAÇÕES GENEROSOS
Assisti pateticamente a uma troca de impressões sobre o nome que me deveria ser atribuído. Nabuco? Celso? Cognac? Óscar foi o escolhido.
CORAÇÕES ORGANIZADOS
Tenho três protectoras que adivinham meus desejos e me olham com amizade, mas sinto maior ternura e um certo paralelismo por aquela, que tal como eu, tem os cabelos pretos manchados de branco! Tenho-lhe tanto amor! Como me cuida! Até me serve as refeições na minha casinha, em dias de chuva.
CORAÇÃO GENTIL
O meu mundo visto cá do rés-do-chão é tão simples e tão tranquilo!
Tenho um quintal para vigiar, flores para estragar, gatos para amedrontar, de um modo especial o Melão, que lá por ser de raça pura, olha para mim, que sou rafeiro, com superioridade
CORAÇÃO ARROGANTE
Mas agora que estou instalado, desejo conhecer a vida dos colegas que me passam à porta. Arranjei um amigo com quem converso de quando em vez. Pergunto-lhe – aí pelas ruas, o que comes?
- Mal, responde-me ele, o que me aparece pelo caminho!
-Não tens um tacho onde comer? Questiono confrangido.
Há quem tenha tachos sempre cheios, mas em grande escala vagueiam por aí, muito desprotegidos, tristes com a sua pouca sorte!
CORAÇÕES INFELIZES
Continuo o diálogo – diz-me, conta-me, situa-me nesta terra, eu vivo num jardim, e vocês? Ah, a Madeira é um jardim imensurável… Jardim e mais jardim.
CORAÇÕES COLORIDOS
- Gostaria de passear contigo, mas a minha dona não me autoriza. Por onde gastas os teus dias?
- Passeio pela cidade vou ao cais, à marina, ao porto, gosto de ver descarregar os contentores. Ena! Tanta comida, faz-me crescer água no focinho, é pena não chegar para todos!
CORAÇÕES ESFAIMADOS
- Sabes, há dias saí de carro, fui ao veterinário com a minha dona, ela chamou um táxi grande, bestial, quando passávamos muita gente nos olhava.
- Ah, eu sei, conheço essa traquitana, é o carro do Sr. Leonel, um carro para transportar doentes em cadeiras de rodas, isso é uma anedota. Sabes lá o que são carros de luxo!
que andam por aí! Há alguns até com bandeirinhas a tremular ao vento. Têm todos os requisitos para dar conforto e bem-estar a quem neles viaja.
-Têm uma planta para se levantar a perna?
-És um idiota e não tenho mais paciência para aturar tanta ignorância, vou-me embora.
CORAÇÃO IMPACIENTE
Óscar pouco se preocupou com a partida do amigo, tinha tanta coisa a fazer, ladrar aos melros pretos que saltitam nas árvores, ladrar para a velha vizinha, só para a irritar e ouvi-la dizer em voz fanhosa:
-Cala-te, Óscar, que já me dói a cabeça!!!
“O cão faz ão ão é meu amigo como os que são”
Sem comentários:
Enviar um comentário