quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

AS CLASSES DE DANÇA DA D.EUGÉNIA




Se ainda se realizassem, teriam por certo, a classificação de "interesse público" pois por elas passsou grande parte da juventude funchalense para se iniciar na arte da dança.

Quando eu era criança, muito criança, já sonhava que era bailarina e ao som matraqueado das bandas de música nos arraiais de Sª. Luzia imaginava que estava a dar lindas piruetas lá no cimo do coreto. Era um belo devaneio e a minha alma pequenina acompanhava-me naquele louco rodopio.

Mais tarde, os filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers mais e mais me entusiasmaram, pela sua graciosidade e beleza; os vestidos luxuosos e muito rodados acentuavam o ritmo dos seus movimentos.

Calmamente fui esperando o tempo em que, já rapariga, iria saborear também o prazer de dançar.

Mas, jamais poderia imaginar que esses projectos iriam ser tão difíceis de concretizar, pois o meu pai cortou-me fria e inexorávelmente os meus desejos de adolescente. - Não, não, a sua sempre menina jamais seria enlaçada por braços masculinos, com o bicho-homem distância -. Até os banhos de mar, no Lido me foram proíbidos, pois era um local frequentado. por militares e, tanto mais, dizia-se, que se passavam por lá muitas indecências ???

Revoltada com estas atitudes, passei a reivindicar os meus direitos femininos.

A minha mãe, sempre conciliadora, resolveu contornar este obstáculo, e um certo dia, chegando a casa, disse-me:- sabes Teresa, vais frequentar as classes de dança da D. Eugénia...MILAGRE...a tanto não tinha sonhado! !! as classes de dança da D. Eugénia tão afamadas pelo seu brilhantis-mo...mas minha súbita alegria foi fugaz e caiu-me aos pés, rolando, rolando no meu pobre chão ,

quando minha mãe acrescentou calmamente:-vais para uma classe particular com a tua ex-colega da escola, irmãs e primos, tudo em família. E que família! Conhecia tão bem os primos da

Suzete. Esses seriam os meus pares? Gordos, anafados, reluzentes à custa de tanto pão comerem

sei lá, pão de forma, português, de cruz.

Aceitei tristemente este programa, dançar eu aprenderia, por certo, mas a vingança era uma certeza.

Nesse tempo, as técnicas de som eram quase desconhecidas e nas classes de dança da D. Eugénia

a música provinha de um piano cansado de devorar, esfrangalhar as belas notas das valsas de

Strauss e dos românticos tangos de Gardel.

As valsas eram penosas para os meus gentis cavalheiros, porque ficavam banhados de suor, já

os fox-trot lhes davam maior descanso. De tango, só o nome, pois suas patorras impediam -nos de executar tão belos passos quase de cumplicidade entre os pares.

Mas, mesmo nestas condições, aprendi: mas para quê, perguntava-me desolada, estavam-me vedados assaltos de Carnaval, festinhas de fim do ano, nada.

Mas agora, as minhas lembranças apagaram-se e não sei como é que eu tive autorização para ir às matinés dançantes do velho Casino da Madeira.

Como era bom dançar com pares galantes, com farda, sem farda, que me levavam a deslizar,, rodopiar ao som de belas músicas modernas tocadas por uma verdadeira orquestra.

Mas toda a felicidade tem o seu preço! e eu pagava esse preço quando me vinham tirar para dançar dois assíduos e indesjáveis pares: Um, o comandante dos Bombeiros Municipais, homem

respeitozissimo, fiel chefe de família mas que adorava foliar com raparigas novas. Quem não se recorda de o ver desfilar garboso, nas paradas militares com seu capacete de metal tão brilhante que até irritava o Sol! O outro indesejável era o Eduardinho, paz à sua alma, tão pequenino, sempre elegantezinho, mas faltou-lhe Pó Royal para crescer.Mas, apesar destes pequenos

incidentes, vivi tardes tão gostosas, nas quais tive oportunidade de exibir os meus conhecimentos adquiridos nas classes de dança da D. Eugénia.


Maria80






















1 comentário:

Tozé Franco disse...

Votos de um Santo Natal.