terça-feira, 9 de dezembro de 2008

As duas Velhas


AS DUAS VELHAS

Ao terminar a leitura do magnifíco livro Cal de José Luís Peixoto, tive um desejo forte, incontrolável, como um vómito que não é possível reter, de contar também uma historieta acerca de duas velhas.
Herdei uma propriedade onde está construída a minha casa e no quintal há um casinhoto, nele vive uma velha; herdei a casa, o casinhoto e a velha. Sempre esteve no palco da minha vida,
nova, menos nova, madura, entradota, velha, muito velha. Também herdei o marido que teve a bondade de partir para sempre, não fosse ele um velho de ouro, caso contrário, ainda estaria cá neste nosso mundo.
No quintal, entre a casa e o casinhoto, foi plantada uma abacateira, e o panorama é este: a
árvore a crescer, crescer, pujante, viçosa, dando frutos, rindo-se de nós, a envelhecer, a envelhecer, sem dar frutos .Os seus ramos abraçam a casa e o casinhoto num desejo, talvez, de nos aproximar, mas não o conseguiu, visitar a velha seria equivalente a tirar uma fotocópia.
Raramente lá vou, mando-lhe fruta, biscoitos, pudins. Não, visitas não, haveria sempre uma comparação. Ah! Os cabelos dela estão melhores do que os meus, mais fortes. Oh! A menina(é assim que ela me trata) anda tão bem e eu já não me aguento. Ui! Eu tenho barba que corto diáriamente e a menina só tem um grande bigode!
Mas, afinal, a velha, um dia, teve uma grande utilidade; a minha gata Luna, trepou até os ramos mais tenros da abacateira, podendo assim, saltar para o telhado, mas não soube descer. Esteve
lá dois dias, miando, miando com o jejum quaresmal. Por fim, chamei os bombeiros, mas eles ocupados, só poderiam vir ao fim do dia e a gata não parava de miar.
No desejo de atrair o animal para a beira do telhado, para assim o poder agarrar, chamava incessantemente: Luna, Luna; até que ouvi, vindo do casinhoto, uma voz rouca – ponham uma lata de sardinha aberta que a gata vai aproximar-se. E assim aconteceu!!!
Salva a minha gatinha, eu, a velha de cá, mandei oferecer à velha de lá uma grande fatia de tarte de maçã. Para nós duas uma longa vida.
Perdoa, José Luís Peixoto, esta imitação tão pobre.

MARIA 80

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