
CONVÍVIO SOCIAL
Tal como as pedras do calhau são delapidadas, esfregadas, alisadas pelas marés, assim o tempo, os anos, nos vão moldando, modificando em vários aspectos. Quando eu era jovem adorava o convívio social, os preparativos, a toilete, a jóia a usar, mas actualmente, só na intimidade, no convívio de óptimas e sinceras amigas, eu não me sinto invadir por uma sensação de cansaço, de vazio, esse que eu deixo transparecer no texto abaixo:
COCTAIL
O cair da tarde é a hora por excelência para encontros de sociedade. Os diversos extractos sociais fazem-se representar por políticos reluzentes, rubicundos, altos dignitários da Igreja, logo rodeados por pias matronas, os diplomatas circunspectos que beijam religiosamente a mão às senhoras, os familiares, alguns caquécticos a sorrir complacentemente, já incapacitados para acompanhar os diálogos à sua volta, as amigas que se beijam esfusiantemente, etc…
…”olhai e vede como eles se amam”…
Retalhos de conversa à minha volta:
…é uma ofensiva arrogante contra os direitos e a cultura…
…é certo que as leis do ruído devem ser respeitados, mas é uma manifesta má vontade contra
as tradições da Igreja…
…a ineficiência da polícia permite que se agridam os transeuntes até com spray nos olhos…
…o bebé quando é esperado…
…estou a convalescer duma gripe pertinaz…
Lá fora, no jardim, o sol está a esconder-se por detrás das árvores, desinteressado de tanta futilidade e ao olhá-lo fugidio, lembro-me de outros fins de tarde em que as nuvens coradas de tanto brincar com o astro Rei se vão diluindo nas sombras do crepúsculo; de outras tardes
em que ouvia, à distância, os seminaristas a cantar as vésperas, na capela do antigo seminário, em tom ritmado; de outra tarde em que o Sol já mortiço, veio beber calor humano, brincar com as chávenas e os sobejos de um chá gostoso e iluminar os cabelos de um grupo de amigas que, à volta da mesa, me olhavam com sincera afeição.
Distraída com os meus pensamentos, partilhava da conversa com palavras vazias. A pouco e pouco começo a sentir os passinhos lentos da tarde a encaminhar-se para a noite, olho para o relógio, está na hora de elegantemente sair, mas é da praxe da família que os convivas assinem o Livro de Ouro, principiei a escrever o meu longo nome, lentamente, para amolar quem esperava pela sua vez,
MARIA TERESA DE MORAIS SARMENTO RODRIGUES HOMEM DE GOUVEIA,
feliz por não me chamar apenas Maria Gouveia.
Tal como as pedras do calhau são delapidadas, esfregadas, alisadas pelas marés, assim o tempo, os anos, nos vão moldando, modificando em vários aspectos. Quando eu era jovem adorava o convívio social, os preparativos, a toilete, a jóia a usar, mas actualmente, só na intimidade, no convívio de óptimas e sinceras amigas, eu não me sinto invadir por uma sensação de cansaço, de vazio, esse que eu deixo transparecer no texto abaixo:
COCTAIL
O cair da tarde é a hora por excelência para encontros de sociedade. Os diversos extractos sociais fazem-se representar por políticos reluzentes, rubicundos, altos dignitários da Igreja, logo rodeados por pias matronas, os diplomatas circunspectos que beijam religiosamente a mão às senhoras, os familiares, alguns caquécticos a sorrir complacentemente, já incapacitados para acompanhar os diálogos à sua volta, as amigas que se beijam esfusiantemente, etc…
…”olhai e vede como eles se amam”…
Retalhos de conversa à minha volta:
…é uma ofensiva arrogante contra os direitos e a cultura…
…é certo que as leis do ruído devem ser respeitados, mas é uma manifesta má vontade contra
as tradições da Igreja…
…a ineficiência da polícia permite que se agridam os transeuntes até com spray nos olhos…
…o bebé quando é esperado…
…estou a convalescer duma gripe pertinaz…
Lá fora, no jardim, o sol está a esconder-se por detrás das árvores, desinteressado de tanta futilidade e ao olhá-lo fugidio, lembro-me de outros fins de tarde em que as nuvens coradas de tanto brincar com o astro Rei se vão diluindo nas sombras do crepúsculo; de outras tardes
em que ouvia, à distância, os seminaristas a cantar as vésperas, na capela do antigo seminário, em tom ritmado; de outra tarde em que o Sol já mortiço, veio beber calor humano, brincar com as chávenas e os sobejos de um chá gostoso e iluminar os cabelos de um grupo de amigas que, à volta da mesa, me olhavam com sincera afeição.
Distraída com os meus pensamentos, partilhava da conversa com palavras vazias. A pouco e pouco começo a sentir os passinhos lentos da tarde a encaminhar-se para a noite, olho para o relógio, está na hora de elegantemente sair, mas é da praxe da família que os convivas assinem o Livro de Ouro, principiei a escrever o meu longo nome, lentamente, para amolar quem esperava pela sua vez,
MARIA TERESA DE MORAIS SARMENTO RODRIGUES HOMEM DE GOUVEIA,
feliz por não me chamar apenas Maria Gouveia.
Sem comentários:
Enviar um comentário