terça-feira, 9 de dezembro de 2008

o Meu Mirante


O meu mirante – uma recordação




Orgulhoso, altaneiro, presença sólida, silenciosa, teus pilhares quais sentinelas atentas perfilhavam-se militarmente. Sobre ti, meu velho amigo, assentavam os corredores da vinha jaquet, por vizinhança lá estavam as goiabeiras e as bananeiras cujos diálogos surdos tu escutavas pachorramente.Ao fundo a anoneira secular recomendava-te as crianças. Deliciavas-te com o ruído da água de rega que nas levadas corria para cumprir a sua missão, as rosas cor de rosa, perfumadas, para enfeitar o arroz doce, alegravam as tuas pedras. Em teus muros, debruçaram-se várias gerações que vinham casualmente ver o sobe e desce da rua ou os eventos paroquiais: arraiais, bandas de música, procissões; para estes acontecimentos eras engalanado com balões de papel cor de rosa.Impassível, assististe ao desfile dos pescadores que em cortejo de fé, carregaram aos ombros enormes bolas de pedra com as quais armaram o terço que rodeia a imagem de N. S. do Terreiro da Luta. Serenamente, ouviste as declarações de amor feitas por jovens enamorados, às suas amadas debruçadas em teus muros. Imperturbável, escutaste os choros e lamentos dos familiares que iam enterrar os seus mortos no antigo cemitério de S. Luzia.No meu coração não estás destruído e junto aos teus muros: descem, descem, descem carros com noivas emocionadas que vão casar à nossa paróquia; sobem, sobem, sobem bebés a baptizar com os respectivos padrinhos muito convictos do seu papel; correm, correm, correm os carreiros que obrigatóriamente apontam aos estrangeiros a nossa igreja dizendo ‘S. Luzia church’. depressa, depressa, depressa, logo pela manhã vão os empregados a caminho dos respectivos trabalhos; voltam, voltam, voltam, ao fim do dia, os que saem, saem, saem para os seus afazeres.E assim, com estas recordações, quando subo, subo, subo ou desço, desço a minha rua, nunca esqueço a tua presença, meu mirante querido e aceno-te sempre, como me faziam os estrangeiros, quando em criança me viam lá no alto, junto a ti, desfrutando o movimento quase contínuo dos carros de cesto.






Maria80

Sem comentários: